Tratamento endovascular: guia prático sobre indicações, procedimentos, benefícios, riscos e cuidados no pós-operatório

Lembro-me claramente da vez em que acompanhei uma paciente de 68 anos até a sala de angiografia. Ela chegara com dor nas pernas e feridas que não cicatrizavam — medo, cansaço e a sensação de que a vida estava diminuindo passo a passo. Depois de explicar o plano e ver a primeira melhora já nas primeiras 24 horas, percebi o poder real do tratamento endovascular: não apenas técnica, mas uma porta para recuperar qualidade de vida. Na minha jornada, aprendi que informação clara e decisões bem embasadas fazem toda a diferença no resultado.

Neste artigo você vai entender, de forma prática e confiável, o que é o tratamento endovascular, quando ele é indicado, como é realizado, quais os benefícios e riscos, e o que esperar no pós-operatório. Vou também compartilhar dicas que uso com pacientes para aumentar as chances de sucesso do procedimento.

Conteúdo

O que é tratamento endovascular?

Tratamento endovascular é um conjunto de procedimentos minimamente invasivos feitos dentro dos vasos sanguíneos usando cateteres, fios-guia, balões, stents ou materiais de embolização.

Em vez de abrir o tórax ou o abdome, o cirurgião vascular, cardiologista intervencionista ou neurointervencionista acessa a circulação por pequenas punções (geralmente na virilha ou no braço) e trata o problema “por dentro”.

Principais indicações

O procedimento é utilizado em várias áreas da vascularização, entre as mais comuns:

  • Aneurisma da aorta abdominal (reparo endovascular – EVAR);
  • Doença arterial periférica (angioplastia e stent para isquemia crônica ou aguda das pernas);
  • Intervenções carotídeas (stent carotídeo em alguns casos);
  • Tratamento endovascular do acidente vascular cerebral isquêmico (trombectomia mecânica);
  • Embolização para sangramentos ou malformações vasculares (por exemplo, varizes pélvicas, miomas ou sangramentos uterinos);
  • Tratamento de fístulas arteriovenosas ou pseudoaneurismas.

Como é feito o procedimento? Passo a passo simples

Vou explicar de forma prática, como se você estivesse na sala junto comigo.

1) Avaliação pré-procedimento

Exames de imagem (Doppler, angioTC, angiografia) e avaliação clínica orientam a escolha do método. Controlamos fatores de risco: pressão, glicemia, função renal.

2) Acesso vascular

Faz-se uma punção arterial e introduz-se um fio-guia. O acesso pode ser femoral (virilha), radial (braço) ou outro, conforme a necessidade.

3) Navegação e tratamento

Com o uso de contraste e imagens em tempo real, o operador avança cateteres até o local da lesão. A partir daí, pode dilatar uma lesão com balão, implantar um stent, realizar embolização com coils ou microesferas, ou remover um trombo.

4) Pós-procedimento imediato

O paciente geralmente fica em observação algumas horas; em muitos casos recebe alta no mesmo dia ou no dia seguinte. Prescreve-se antiplaquetários, estatina e controle dos fatores de risco quando indicado.

Vantagens do tratamento endovascular

  • Menor invasividade: corte pequeno ou nenhuma incisão grande.
  • Recuperação mais rápida e menor tempo de internação.
  • Menor sangramento e menor risco de infecção em comparação com cirurgia aberta.
  • Possibilidade de realização sob anestesia local em muitos casos.

Riscos e limitações

Como todo procedimento, tem riscos e não é indicado para todas as situações.

  • Lesão do vaso, hematoma ou pseudoaneurisma no local da punção;
  • Complicações relacionadas ao contraste: alergias e injúria renal;
  • Trombose ou reestenose do segmento tratado (pode exigir novo procedimento);
  • Em casos complexos de aneurisma ou lesão extensa, o resultado a longo prazo pode ser inferior ao da cirurgia aberta;
  • Risco específico: embolização inadvertida (pode causar AVC em procedimentos carotídeos) — por isso a seleção do paciente é essencial.

Transparência: existem cenários em que a cirurgia aberta ainda é a melhor escolha. O importante é discutir as opções com a equipe multidisciplinar.

Resultados e evidências

Estudos e diretrizes mostram que, quando bem indicada, a técnica endovascular apresenta alta taxa de sucesso técnico e menor morbidade imediata do que a cirurgia aberta em muitos procedimentos. Por exemplo, a trombectomia mecânica para AVC isquêmico melhorou desfechos neurológicos em vários ensaios clínicos (American Heart Association).

Para aneurisma de aorta abdominal, o EVAR costuma ter menor mortalidade perioperatória, mas exige vigilância contínua por risco de endoleak (fluxo residual para o saco do aneurisma).

Fontes e diretrizes atualizadas ajudam a escolher o melhor caminho para cada paciente (ver referências ao final).

Cuidados no pós-operatório e seguimento

Algumas medidas práticas que explico sempre aos meus pacientes:

  • Tome os medicamentos prescritos (antiagregantes, estatinas) e não os interrompa sem orientação;
  • Mantenha controle de pressão arterial, glicemia e tabagismo — são determinantes para o sucesso a longo prazo;
  • Realize exames de imagem de controle (Doppler, angioTC) conforme a recomendação da equipe;
  • Procure sinais de complicação: dor intensa no local, inchaço que aumenta, febre, perda súbita de função do membro ou sintomas neurológicos.

Quem pode indicar e quem realiza o procedimento?

Normalmente o tratamento endovascular é indicado por especialistas em cirurgia vascular, cardiologia intervencionista ou neurorradiologia/intervenção (no caso do AVC). Uma equipe multidisciplinar (cirurgião vascular, cardiologista, anestesista, radiologista) garante melhor avaliação e segurança.

Perguntas que frequentemente meus pacientes fazem

  • “Vou sentir dor?” — A maioria dos procedimentos causa desconforto mínimo; anestesia local e sedação são comuns.
  • “Quanto tempo leva a recuperação?” — Muitas pessoas voltam às atividades leves em dias; trabalhos pesados podem precisar de semanas de afastamento.
  • “Quanto tempo dura o resultado?” — Depende do problema: stents em membros podem reestenosear; EVAR exige acompanhamento contínuo.

Quando não escolher o tratamento endovascular?

Indicações contra incluem anatomia desfavorável, infecção ativa, alergia grave ao contraste sem alternativa, ou quando a durabilidade esperada da cirurgia aberta supera a opção endovascular. A avaliação individual é essencial.

Dicas práticas para pacientes que vão passar por tratamento endovascular

  • Leve uma lista de medicamentos e exames; informe alergias e função renal;
  • Se fumar, busque ajuda para parar antes do procedimento — melhora os resultados;
  • Agende alguém para buscar você no dia da alta; evite dirigir por 24–48 horas quando indicado;
  • Faça perguntas: qual é o objetivo do procedimento, quais alternativas existem, quais os riscos e o plano de seguimento?

FAQ rápido

O tratamento endovascular resolve tudo? Não. É uma excelente opção para muitas condições, mas nem sempre é a melhor. A escolha depende de cada caso.

É seguro em idosos? Em muitos casos, sim — especialmente por ser menos invasivo. A avaliação clínica e a função orgânica é que orientam a decisão.

Preciso de cirurgia depois? Às vezes. Alguns pacientes podem necessitar de reintervenções ou cirurgia aberta se o tratamento endovascular falhar ou não for definitivo.

Conclusão

O tratamento endovascular representa uma revolução na forma como tratamos doenças vasculares: menos invasivo, com recuperação mais rápida e resultados excelentes quando bem indicado. Mas atenção: sucesso técnico vem de boa seleção do paciente, equipe experiente e seguimento rigoroso.

E você, qual foi sua maior dificuldade com tratamento endovascular ou com problemas vasculares? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo — sua história pode ajudar outras pessoas.

Referências e fontes confiáveis

  • Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV): https://sbacv.org.br
  • American Heart Association — diretrizes e materiais sobre intervenção endovascular e trombectomia: https://www.heart.org

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