Lembro-me claramente da vez em que fui visitar uma amiga que sofria com edema crônico nas pernas. Ela havia comprado uma meia compressiva na farmácia, sem orientação, e passava horas tentando colocá‑la sozinha, com dor, calor e a frustração de não ver melhora. Na minha jornada como jornalista e especialista em saúde vascular, aprendi que a diferença entre aliviar e agravar um problema muitas vezes está no ajuste, no tipo de compressão e na orientação correta.
Neste artigo você vai entender, de forma prática e segura, o que é terapia compressiva, quando ela funciona, como escolher o produto certo, como usar corretamente e quais cuidados tomar. Vou compartilhar experiências reais, estudos confiáveis e recomendações passo a passo para que você tome decisões informadas.
Conteúdo
O que é terapia compressiva?
Terapia compressiva é o uso de pressão externa sobre membros (geralmente pernas e braços) por meio de meias, bandagens ou dispositivos pneumáticos para melhorar o retorno venoso, reduzir edema e promover a cicatrização de úlceras.
Ela atua como uma “moldura” externa que ajuda as veias a empurrarem o sangue de volta ao coração, reduzindo a estagnação venosa e a formação de edemas.
Principais indicações
- Insuficiência venosa crônica (dor, sensação de peso, varizes).
- Edema e linfedema (após avaliação especializada).
- Úlceras venosas de perna — acelera a cicatrização em combinação com cuidados locais.
- Prevenção de trombose venosa profunda (DVT) em situações específicas, especialmente no pós‑operatório.
- Alívio de desconforto durante gravidez e longos voos.
Tipos de terapia compressiva
Meias ou panturrilhas compressivas
Disponíveis em diferentes comprimentos (panturrilha, coxa) e graus de compressão (medidos em mmHg). São a forma mais comum e prática.
Bandagens compressivas
Usadas frequentemente em úlceras venosas; podem fornecer compressão multilayer e nível mais alto de controle.
Dispositivos pneumáticos (intermitentes)
Máquinas que enchem bolsas de ar sequencialmente para simular a ação muscular; usadas em hospitais para prevenção de DVT e em tratamento de linfedema.
Graus de compressão: o que significam os números?
- Leve (10–15 mmHg): para conforto, pernas cansadas, viajantes.
- Moderada (15–20 mmHg): prevenção de edema em grávidas, suporte leve.
- Classe I (20–30 mmHg): tratamento de varizes leves e sintomas moderados.
- Classe II (30–40 mmHg): insuficiência venosa mais avançada, prevenção de recidiva de úlcera.
- Classe III (>40 mmHg): casos severos, somente sob supervisão médica especializada.
Como escolher a terapia compressiva certa
Escolher errado é uma das principais causas de insucesso. Eu já vi pacientes desistirem porque a meia apertava no lugar errado ou caía o dia todo.
- Faça avaliação especializada: um angiologista/flebologista ou fisioterapeuta especialista em linfedema deve indicar o tipo e a pressão.
- Meça as pernas: circunferência nos pontos recomendados e comprimento da perna definem o tamanho correto.
- Verifique o índice tornozelo‑braço (ABI/ITB) se houver suspeita de doença arterial. Compressão intensa é contraindicada com ITB < 0,8.
- Considere material e clima: nylons finos versus algodão com forro; alguns modelos têm forro para pele sensível.
Como colocar e cuidar da meia compressiva
Colocar corretamente faz toda a diferença. Vou descrever o passo a passo que recomendo aos meus pacientes e que eu mesma já testei pessoalmente.
- Lave e seque bem as mãos e a pele da perna.
- Vire a meia do avesso até a ponta (calcanhar exposto) e enrole até a base.
- Coloque a ponta no pé e desenrole subindo com movimentos suaves, ajustando o calcanhar no lugar.
- Ajuste rugas e dobre levemente se houver excesso no tornozelo (rugosidade causa pontos de pressão).
- Use luvas de silicone para facilitar em meias mais firmes.
Cuidado com unhas compridas, anéis e joias que podem puxar o tecido.
Possíveis efeitos colaterais e contraindicações
Terapia compressiva é segura quando bem indicada, mas existem riscos se aplicada sem avaliação.
- Contraindicações: isquemia arterial grave (ITB < 0,8), infecção cutânea ativa sem tratamento, insuficiência cardíaca descompensada (usar com cautela).
- Efeitos adversos: desconforto, lesões de pele por fricção, dor se muito apertada, agravamento de úlceras arteriais.
- Monitore a pele: vermelhidão persistente, dormência ou dor intensa exigem revisão imediata.
Por quanto tempo usar terapia compressiva?
Depende da condição.
- Sintomas leves: pode ser diário durante atividades (especialmente em pé por longos períodos).
- Úlceras venosas: uso contínuo durante o tratamento e manutenção para prevenir recidiva.
- Pós‑trombose: indicação por meses a anos, conforme avaliação médica.
Dicas práticas para facilitar o uso (baseado em experiência real)
- Compre duas pares iguais: intercambie enquanto um está sendo lavado.
- Coloque a meia de manhã, quando o edema é menor.
- Use talco antideslizante ou luvas específicas para meias compressivas se estiver difícil de calçar.
- Se sentir aumento de dor ou formigamento, retire e procure avaliação.
- Se a meia escorregar, verifique o tamanho; volte ao profissional para reavaliação.
O que a ciência diz?
Há evidências robustas de que compressão é efetiva em úlceras venosas e alívio de sintomas de insuficiência venosa.
- Revisões sistemáticas (Cochrane) mostram que terapia compressiva acelera a cicatrização de úlceras venosas quando combinada a cuidados locais (https://www.cochrane.org).
- Diretrizes clínicas internacionais recomendam medição adequada e avaliação vascular antes de iniciar compressão intensa (NICE e sociedades vasculares).
Quando procurar um especialista?
Procure avaliação imediata se houver:
- Dor intensa ou súbita no membro.
- Vermelhidão difusa, calor local e febre (possível infecção).
- Alteração da cor do pé (pálido ou azul), perda de sensibilidade ou pulso fraco.
- Dúvidas sobre o tipo de meia ou o ajuste correto.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Meia compressiva emagrece ou modela a perna?
Não. A função é fisiológica: controlar edema e melhorar fluxo venoso. Pode dar aparência mais firme, mas não é método estético de emagrecimento.
2. Posso usar a meia compressiva à noite?
Geralmente não é necessário usar durante o sono, exceto sob orientação para casos específicos (linfedema grave ou ordem médica).
3. A compressão previne varizes?
Ela não impede totalmente o surgimento de novas varizes, mas reduz sintomas e pode retardar a progressão da insuficiência venosa.
4. Como limpar as meias?
Lave à mão com sabão neutro e deixe secar à sombra. Evite secadoras e alvejantes para preservar a elasticidade.
Resumo rápido
- Terapia compressiva é uma ferramenta comprovada para controle de edema, alívio de sintomas venosos e cicatrização de úlceras venosas.
- Escolha do tipo, pressão e tamanho deve ser feita por profissional após avaliação clínica e vascular.
- Existem contraindicações importantes — principalmente doença arterial periférica — que exigem testes prévios.
- Uso correto e manutenção aumentam adesão e melhoram os resultados.
Se eu pudesse resumir minha recomendação em uma frase: invista tempo em uma avaliação especializada e em um ajuste correto — isso muda tudo.
Referências e leitura recomendada
- Cochrane Library — revisões sobre compressão em úlceras venosas e prevenção de trombose: https://www.cochranelibrary.com
- NICE (National Institute for Health and Care Excellence) — orientações sobre cuidados vasculares: https://www.nice.org.uk
- Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) — materiais e diretrizes locais: https://www.sbacv.org.br
E você, qual foi sua maior dificuldade com terapia compressiva? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo — quero saber o que funcionou (ou não) na sua rotina.