Lembro-me claramente da vez em que acompanhei minha avó ao hospital depois que ela teve um episódio de fraqueza em um braço e visão turva por alguns minutos. Naquele dia aprendi, na prática, como uma doença silenciosa nas artérias do pescoço — a chamada doença carotídea — pode transformar uma manhã comum em horas de angústia e decisões rápidas. Vi médicos explicarem termos difíceis, familiares confusos e a liberdade que vem com uma decisão bem informada.
Na minha jornada como jornalista e especialista em saúde, trabalhando há mais de 10 anos com pacientes e profissionais, percebi que informação clara salva tempo e vidas. Neste artigo você vai aprender o que é a doença carotídea, como identificá-la, quais exames pedem e quando tratar — com explicações simples, evidências e dicas práticas para conviver e prevenir.
Conteúdo
O que é doença carotídea?
A doença carotídea é o estreitamento (estenose) ou obstrução das artérias carótidas — dois vasos importantes no pescoço que levam sangue ao cérebro. Pense nelas como canos que podem acumular “gordura” ao longo do tempo, reduzindo o fluxo.
Esse acúmulo é, na maioria das vezes, causado pela aterosclerose — depósito de placas de gordura, cálcio e tecido cicatricial nas paredes arteriais.
Por que isso importa?
Quando a artéria carótida está muito estreita, há risco de que um coágulo se forme ou que fragmentos da placa se soltem e viagem ao cérebro, causando um acidente isquêmico transitório (AIT/TIA) ou um AVC isquêmico. Você já imaginou perder movimentos ou fala em segundos?
Quais são as causas e fatores de risco?
- Idade avançada (o risco aumenta com a idade).
- Hipertensão arterial.
- Tabagismo (um dos maiores fatores modificáveis).
- Colesterol alto e diabetes.
- Doença cardiovascular prévia (infarto, doença arterial periférica).
- História familiar de aterosclerose.
Controlar esses fatores reduz significativamente o risco de progressão e de eventos como AVC.
Como a doença carotídea se apresenta — sintomas
Muitas pessoas não têm sintomas — a doença pode ser silenciosa e detectada por exame de rotina. Mas quando há sintomas, eles costumam ser súbitos e transitórios:
- Fraqueza ou dormência de um lado do corpo.
- Dificuldade para falar ou compreender (afasia).
- Perda súbita da visão em um olho (amaurose fugaz).
- Tontura intensa ou perda de equilíbrio.
Se você sentir qualquer um desses sinais, procure atendimento imediatamente — cada minuto conta.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico começa com exame clínico e histórico. O médico pode auscultar o pescoço em busca de sopros (som de turbulência). Depois, são necessários exames de imagem:
- Ultrassonografia Doppler (arterial carotídea) — teste não invasivo, primeiro passo diagnostico.
- Angiotomografia (CTA) — imagem detalhada das artérias com contraste.
- Angioressonância (MRA) — alternativa sem radiação, dependendo do caso.
- Arteriografia por cateter (angiografia) — exame invasivo, usado quando há dúvida ou para planejamento de procedimento.
O ecodoppler é o exame mais usado inicialmente por ser acessível e confiável (fonte: StatPearls e Mayo Clinic).
Tratamentos: quando tratar e quais as opções
O objetivo do tratamento é reduzir o risco de AVC. A escolha depende de vários fatores: se a pessoa teve sintomas, o grau de estenose, a saúde geral e os riscos cirúrgicos.
Tratamento clínico (conservador)
- Ajuste de fatores de risco: parar de fumar, controlar pressão, colesterol e diabetes.
- Medicamentos: antiagregantes (como aspirina), estatinas e, quando indicado, controle rigoroso da pressão arterial.
- Monitoramento regular com ultrassom para estenoses assintomáticas.
Para muitos pacientes assintomáticos, o tratamento clínico associado a boas práticas de prevenção é a primeira linha.
Revascularização — quando e como
Quando a estenose é significativa e/ou houve sintomas, pode-se indicar revascularização por duas técnicas principais:
- Endarterectomia carotídea (CEA): cirurgia aberta para remover a placa. É o padrão-ouro em muitos casos, especialmente em pacientes sintomáticos com estenose moderada a grave.
- Stent carotídeo (CAS): procedimento endovascular que coloca um stent na artéria para mantê-la aberta. Opção quando cirurgia tem risco maior ou anatomia desfavorável.
Em geral, para pacientes sintomáticos, a intervenção costuma ser mais benéfica se feita nas primeiras semanas após o sintoma. Para pacientes assintomáticos, a indicação é mais seletiva; a decisão deve ser individualizada (consulte seu vascular ou neurologista).
Riscos e benefícios — como decidir?
Decidir entre tratamento clínico e intervenção envolve avaliar o risco de AVC sem tratamento versus o risco de complicações imediatas do procedimento.
O diálogo com a equipe médica, entender taxas de sucesso e risco de complicações (sangramento, AVC perioperatório, infecção) é essencial. Peça números — por exemplo, qual é a taxa local de complicações da cirurgia e do stent no serviço onde será operado.
Prevenção e convivência
Prevenir é agir sobre o que você pode controlar:
- Pare de fumar — o benefício é rápido e grande.
- Adote dieta saudável e pratique atividade física regularmente.
- Use e tome corretamente as medicações prescritas (estatinas, antiagregantes, antihipertensivos).
- Faça check-ups regulares, principalmente se você tem fatores de risco.
Viver com doença carotídea não significa viver com medo — significa estar atento e cuidar da saúde de forma proativa.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. A doença carotídea sempre causa AVC?
Não. Muitas pessoas têm estenose assintomática que não evolui para AVC, principalmente se os fatores de risco forem controlados.
2. Quando devo procurar um médico?
Procure atendimento imediato se tiver fraqueza súbita de um lado do corpo, alteração da fala, perda de visão em um olho ou outros sinais de AVC. Para rastreamento, converse com seu médico se tiver fatores de risco como hipertensão, diabetes ou histórico de doença cardíaca.
3. O tratamento com stent é melhor que a cirurgia?
Depende do caso. Em populações específicas (por exemplo, pacientes mais jovens com anatomia favorável), stenting pode ser alternativa. Em muitos pacientes sintomáticos, a endarterectomia tem melhor evidência em centros experientes. A decisão deve ser individualizada.
4. Posso prevenir completamente?
Não há garantia absoluta, mas reduzir fatores de risco (especialmente parar de fumar e controlar pressão e colesterol) diminui muito as chances de progressão e de AVC.
Conclusão
Doença carotídea é um problema comum e muitas vezes silencioso, mas com diagnóstico e manejo adequados pode-se reduzir substancialmente o risco de AVC. Informação clara, controle de fatores de risco e decisões compartilhadas entre paciente e equipe médica são os pilares para bons resultados.
Resumo rápido: saiba os sinais de alerta, faça exames quando indicado, siga o tratamento clínico e, quando necessário, avalie revascularização com profissionais experientes.
E você, qual foi sua maior dificuldade com doença carotídea? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo — sua história pode ajudar outra pessoa.
Fontes e leituras recomendadas: StatPearls (NCBI Bookshelf) — “Carotid Artery Stenosis” (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441857/), Mayo Clinic — “Carotid artery disease” (https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/carotid-artery-disease/symptoms-causes/syc-20350679), American Heart Association — guia informativo sobre doença carotídea (https://www.heart.org/en/health-topics/atherosclerosis/carotid-artery-disease).