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Introdução: minha primeira experiência com escleroterapia
Lembro-me claramente da vez em que uma paciente entrou no consultório envergonhada pelos “vasinhos” que apareciam em suas pernas no verão. Ela dizia que usava saias só quando estava longe de olhos alheios. Na minha jornada como jornalista e especialista que acompanhou dezenas de tratamentos vasculares, aprendi que esse desconforto estético costuma esconder uma perda de autoestima que afeta a vida cotidiana.
Nesse artigo vou compartilhar o que aprendi — de forma prática e humana — sobre escleroterapia: o que é, como funciona, para quem é indicada, riscos, cuidados antes e depois, alternativas e resultados esperados. Quero que você saia daqui preparado(a) para conversar com seu médico e tomar decisões informadas.
O que é escleroterapia?
Escleroterapia (ou sclerotherapy, em inglês) é um tratamento médico minimamente invasivo usado para eliminar pequenas veias varicosas e “vasinhos” (telangiectasias). Consiste na injeção de uma substância esclerosante diretamente na veia, que lesiona o endotélio (revestimento interno), promovendo inflamação controlada, colapso e, posteriormente, reabsorção fibrosa da veia.
Como funciona — explicado de forma simples
Pense na veia como um túnel com paredes danificadas. O esclerosante é como um “adesivo” químico que gruda as paredes desse túnel, fechando-o. O corpo então organiza a “obra” e transforma aquele túnel em tecido fibroso que desaparece com o tempo.
Tipos de esclerosantes e técnicas
- Polidocanol (ex.: Aethoxysklerol) — muito usado, bem tolerado.
- Sulfato de sódio tetradecil (STS) — outra opção comum.
- Solução salina hipertônica — usada com menos frequência hoje.
- Espuma (foam sclerotherapy) — mistura do esclerosante com ar/CO2, permite tratar veias maiores (ex.: safena) com maior contato e eficácia.
Indicações: quando a escleroterapia é recomendada?
- Vasinhos (telangiectasias) e veias reticulares
- Pequenas varizes que não exigem cirurgia
- Tratamento complementar após procedimentos como ablação de veia safena
- Pacientes que buscam solução estética com rápida recuperação
Como é o procedimento — passo a passo
- Consulta prévia: avaliação clínica e, frequentemente, doppler venoso para checar refluxos.
- Limpeza da pele e marcação das veias a serem tratadas.
- Injeções subcutâneas rápidas com agulhas finas. O número de injeções varia por sessão.
- Compressão: aplicação de curativo e/ou meia compressiva logo após o procedimento.
- Orientações pós-procedimento: caminhar, usar meias, evitar exposição solar intensa e reportar sinais incomuns.
Quanto tempo dura cada sessão?
Normalmente 15–45 minutos, dependendo da extensão das veias a serem tratados.
Resultados: quando e o que esperar
Os resultados estéticos começam a aparecer em semanas, com melhora progressiva em 1–3 meses. Para veias maiores ou extensas, podem ser necessárias várias sessões (geralmente 1–4 ou mais). A escleroterapia elimina a veia tratada, mas não impede que novas veias apareçam no futuro.
Riscos e efeitos colaterais
- Escurecimento da pele (hiperpigmentação) — pode durar meses, geralmente melhora com o tempo.
- Pequenas reações locais: dor, ardor, hematomas.
- Tromboflebite superficial — inflamação de uma veia, tratável com anti-inflamatórios e compressão.
- Eventos raros mas importantes: trombose venosa profunda (muito incomum), reações alérgicas.
- Com espuma: relatos raros de sintomas neurológicos transitórios (visuais ou sensoriais) — avaliar risco individual.
Dados de séries clínicas mostram que complicações graves são raras quando o procedimento é realizado por profissional treinado e com avaliação prévia adequada (Fonte: sociedades vasculares e literatura especializada).
Contraindicações
- Gravidez e amamentação (adiar o tratamento).
- Infecção no local de punção.
- Pacientes com histórico de trombose venosa profunda recente ou condições que aumentem risco trombótico — avaliação individual é essencial.
- Alergia conhecida ao esclerosante utilizado.
Cuidados pré e pós
Antes
- Converse com seu médico sobre medicamentos (anticoagulantes, antiagregantes); não suspenda nada sem orientação.
- Evite depilação com cera no dia do procedimento para não irritar a pele.
- Use roupas confortáveis no dia.
Depois
- Caminhar várias vezes ao dia é recomendado — ajuda a reduzir o risco de trombose.
- Usar meias compressivas conforme orientação (geralmente 1–2 semanas para varizes pequenas; prazo pode variar).
- Evitar banho quente ou exposição solar intensa nos primeiros dias para diminuir risco de hiperpigmentação.
- Relatar dor intensa, febre, edema significativo ou sinais de trombose ao médico imediatamente.
Alternativas à escleroterapia
- Tratamentos a laser (transdérmico) — para vasinhos finos.
- Ablação por radiofrequência ou laser endovenoso — para veias safenas com refluxo.
- Cirurgia convencional (flebectomia/stripping) — menos comum hoje, reservada para casos específicos.
Em muitos casos, combina-se técnicas (ex.: ablação de safena + escleroterapia de veias residuais).
Frequência, dor e custo
- Sessions: muitas pessoas precisam de 1–3 sessões para resultado satisfatório; casos maiores demandam mais.
- Dor: geralmente leve; sensações de ardor e cãibra podem ocorrer durante a injeção.
- Custo: varia por região, clínica e extensão do tratamento. Consulte clínica especializada e peça detalhamento.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Escleroterapia é permanente?
A veia tratada costuma ser eliminada permanentemente. Porém, novas veias podem surgir com o tempo; é uma solução localizada, não cura o fator predisponente.
2. Posso fazer no verão?
Sim, mas recomenda-se evitar exposição solar direta e seguir orientações para reduzir hiperpigmentação. Muitos preferem fazer fora de temporada de praia por conforto.
3. É doloroso?
Normalmente é desconfortável por instantes; muitas pessoas relatam dor leve a moderada durante a picada e sensação de queimação breve.
4. O plano de saúde cobre?
Depende do país e da cobertura: quando o tratamento é por indicação médica (ex.: tratamento de sintomas causados por insuficiência venosa), algumas operadoras cobrem; quando é puramente estético, geralmente não.
5. Posso tratar durante a gravidez?
Não é recomendado. Aguarde pelo menos até o término da amamentação e avaliação médica.
Minhas recomendações práticas (baseadas em experiência)
- Procure um angiologista, cirurgião vascular ou profissional experiente para avaliação com doppler antes de qualquer injeção.
- Peça para ver fotos de casos anteriores (antes e depois) do próprio médico/clínica.
- Sempre esclareça qual esclerosante será usado e qual a estratégia (líquido vs espuma).
- Tenha expectativas realistas: resultados melhoram a aparência e a autoestima, mas podem exigir manutenção.
Conclusão
A escleroterapia é uma ferramenta poderosa e consolidada para tratar vasinhos e pequenas varizes com baixo tempo de recuperação. Feita por profissional habilitado, oferece boa eficácia estética e sintomática. Como em qualquer procedimento médico, o sucesso depende de avaliação correta, técnica adequada e seguimento pós-procedimento.
E você, qual foi sua maior dificuldade com escleroterapia ou com problemas venosos? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Referências e leituras recomendadas
- Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) — informações sobre tratamentos de varizes: https://www.sbacv.org.br/
- NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) — página sobre tratamento de varizes e escleroterapia: https://www.nhs.uk/conditions/varicose-veins/treatment/
- American Vein & Lymphatic Society — recursos para pacientes: https://www.veinforum.org/