DAP: A doença silenciosa que causa dor nas pernas ao caminhar

Na correria do dia a dia, uma dor na perna durante a caminhada pode parecer só mais um sinal de cansaço. Um incômodo passageiro, talvez o resultado daquela faxina mais pesada no fim de semana ou da falta de costume com a academia. A gente ignora, toma um analgésico e segue a vida. Mas a verdade, nua e crua, é que o buraco pode ser bem mais embaixo. Esse sinal, aparentemente inofensivo, pode ser o seu corpo gritando por socorro, apontando para uma condição séria e silenciosa: a Doença Arterial Periférica (DAP).

E aqui não estamos falando de um problema raro, que afeta uma pequena parcela da população. Estamos falando de uma realidade que atinge milhões de brasileiros, muitos dos quais nem desconfiam que a têm. É uma daquelas histórias que a gente só acredita quando acontece com o vizinho ou, pior, dentro de casa.

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O que diabos é a Doença Arterial Periférica?

Vamos direto ao ponto, sem rodeios. Imagine as artérias do seu corpo como um sistema de estradas vitais, transportando sangue rico em oxigênio do coração para todos os cantos, especialmente para as pernas e pés. Agora, imagine que essas estradas começam a ficar entupidas, estreitas, cheias de “obras” que dificultam o tráfego. Essa “obra” é, na maioria das vezes, uma placa de gordura e colesterol chamada ateroma.

A Doença Arterial Periférica é exatamente isso: o estreitamento ou bloqueio das artérias que levam sangue para os membros do corpo, principalmente os inferiores. Com menos sangue chegando, os músculos e tecidos sofrem. É uma isquemia. E é aí que os problemas começam.

Não é “só má circulação”. É um sinal vermelho de que o mesmo processo de entupimento pode estar acontecendo em outras artérias vitais, como as do coração ou do cérebro, aumentando drasticamente o risco de infarto e AVC. É um alerta que não pode, de jeito nenhum, ser ignorado.

Os Sinais que seu Corpo Envia (e que você talvez ignore)

O sintoma mais clássico da DAP é a chamada claudicação intermitente. Um nome complicado para uma coisa simples: dor nas pernas ao caminhar. Tipicamente, a dor surge na panturrilha (a batata da perna) após uma certa distância percorrida e alivia com alguns minutos de repouso. A pessoa anda, sente dor, para, melhora. E o ciclo se repete.

“É uma dor que queima, uma cãibra forte”, descreve J. M. S., aposentado de 68 anos que descobriu a doença há dois anos. “Eu achava que era da idade, sabe? Coisa de velho. Até o dia em que não consegui andar nem 50 metros até a padaria. Aí o medo bateu forte.”

Mas a claudicação não é o único sinal. Fique atento a outros sintomas:

  • Sensação de peso ou cansaço nas pernas.
  • Pele fria, pálida ou azulada nos pés.
  • Perda de pelos nas pernas e pés.
  • Crescimento lento das unhas dos pés.
  • Feridas ou úlceras nos pés que demoram a cicatrizar. Em casos graves, pode levar à gangrena.
  • Disfunção erétil em homens.

Em fases mais avançadas, a dor pode ocorrer mesmo em repouso, principalmente à noite, quando a pessoa está deitada. É um sinal de que o fluxo sanguíneo está criticamente baixo.

Na Mira da Doença: Fatores de Risco

Ninguém está completamente imune, mas algumas pessoas têm um alvo pintado nas costas para a DAP. A doença não escolhe suas vítimas ao acaso. Ela tem preferências claras, e elas estão diretamente ligadas ao nosso estilo de vida e histórico de saúde.

Colocar na ponta do lápis os fatores de risco é o primeiro passo para a prevenção. Veja quem está mais vulnerável:

Fator de Risco Por que Aumenta o Risco?
Tabagismo É o principal vilão. A nicotina danifica a parede das artérias e acelera o processo de aterosclerose.
Diabetes O excesso de açúcar no sangue contribui para o enrijecimento e estreitamento dos vasos sanguíneos.
Hipertensão (Pressão Alta) A força excessiva do sangue contra as paredes das artérias pode causar lesões, facilitando o acúmulo de placas.
Colesterol Alto O excesso de colesterol “ruim” (LDL) é a matéria-prima para a formação das placas que entopem as artérias.
Idade Acima de 50 anos O risco aumenta naturalmente com o envelhecimento do corpo e dos vasos.
Histórico Familiar Genética também conta. Ter parentes de primeiro grau com doenças vasculares acende um alerta.

Diagnóstico e Tratamento: Uma Corrida Contra o Tempo

A suspeita de DAP já acende o alerta para procurar um angiologista ou cirurgião vascular. O diagnóstico, muitas vezes, começa com um exame simples e indolor chamado Índice Tornozelo-Braquial (ITB). Ele mede e compara a pressão arterial nos tornozelos com a pressão nos braços. Um resultado baixo indica que o sangue não está fluindo como deveria para as pernas.

Confirmado o diagnóstico, o tratamento é um plano de ataque em várias frentes. E a principal arma é a mudança no estilo de vida. Parar de fumar é inegociável. Controlar a pressão, o diabetes e o colesterol com medicamentos e dieta é fundamental.

Além disso, o médico indicará um programa de caminhadas supervisionadas. Parece contraditório caminhar para quem sente dor ao caminhar, certo? Mas o exercício, feito da maneira correta, estimula o corpo a criar novos e pequenos vasos sanguíneos (a chamada circulação colateral), que funcionam como “desvios” para o sangue contornar as artérias bloqueadas.

Em casos mais graves, quando a obstrução é crítica, podem ser necessários procedimentos mais invasivos, como a angioplastia (para desobstruir a artéria com um balão) ou até mesmo uma cirurgia de ponte (bypass), criando um novo caminho para o sangue.

A Doença Arterial Periférica não é uma sentença de morte, mas é um ultimato. É o corpo avisando que as coisas precisam mudar, e para ontem. Ignorar aquela dor na perna pode custar não apenas a sua mobilidade, mas a sua vida. No fim das contas, a decisão de ouvir esse alerta está em suas mãos. Ou melhor, em seus pés.


Este artigo foi elaborado por um jornalista com mais de uma década e meia de experiência na cobertura de temas de saúde e bem-estar, baseado em apuração de fatos, entrevistas com especialistas e análise de dados de saúde pública, com o objetivo de traduzir informações complexas para o público leigo.


Perguntas e Respostas Frequentes (FAQ)

1. A Doença Arterial Periférica tem cura?

A DAP é uma doença crônica, o que significa que não tem uma “cura” definitiva no sentido de desaparecer para sempre. No entanto, ela pode ser muito bem controlada. Com tratamento adequado, mudanças no estilo de vida e acompanhamento médico, é possível frear a progressão da doença, aliviar os sintomas e, o mais importante, reduzir drasticamente o risco de complicações graves como infarto, AVC e amputações.

2. Apenas idosos desenvolvem DAP?

Não. Embora o risco aumente significativamente após os 50 anos, pessoas mais jovens não estão imunes, especialmente se tiverem fatores de risco fortes, como tabagismo e diabetes tipo 1 ou tipo 2. O fumo, em particular, pode acelerar o processo de aterosclerose em décadas, levando à manifestação da doença em pessoas na faixa dos 40 ou até mesmo 30 anos.

3. Meias de compressão ajudam no tratamento da DAP?

Essa é uma dúvida comum e perigosa. Não, meias de compressão não são indicadas para a Doença Arterial Periférica e podem até piorar a situação. As meias são projetadas para ajudar no retorno do sangue venoso (das veias), comprimindo a perna. Na DAP, o problema é a falta de chegada de sangue arterial. Comprimir uma perna que já recebe pouco sangue pode diminuir ainda mais a circulação e agravar a isquemia.

4. Qual a diferença entre a dor da DAP e uma cãibra comum?

A principal diferença está no gatilho e no alívio. A dor da DAP (claudicação intermitente) é previsível: ela aparece durante um esforço físico, como caminhar, e some rapidamente com o repouso. Uma cãibra muscular comum pode ocorrer em repouso, durante o sono, ou após um exercício extenuante, e a dor costuma ser mais aguda e localizada, melhorando com alongamento, e não apenas parando a atividade.

5. Se eu não tratar a DAP, o que pode acontecer?

Ignorar a DAP é uma aposta de altíssimo risco. A doença pode progredir para a chamada “isquemia crítica dos membros”, onde a dor se torna constante mesmo em repouso e feridas que não cicatrizam (úlceras) podem surgir nos pés. Isso pode evoluir para gangrena (morte do tecido), levando à necessidade de amputação do membro. Além disso, a DAP é um marcador de que a aterosclerose está presente em todo o corpo, multiplicando o risco de um infarto fulminante ou de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Fontes e Referências: As informações contidas neste artigo foram checadas com base em dados de associações médicas e portais de saúde de alta credibilidade, como o portal de notícias G1 Bem Estar.

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