Terapia compressiva: guia prático e baseado em evidências para escolher meias, bandagens e prevenir úlceras e edema

Lembro-me claramente da vez em que minha mãe voltou para casa com uma bandagem compressiva enrolada até o joelho — e eu, sem saber direito o que fazer, tive medo de apertar demais. Naquele episódio comecei a mergulhar na prática da terapia compressiva: aprendi a medir o tornozelo, a escolher a meia certa e a reconhecer sinais de alerta. Em poucas semanas a pele ao redor da úlcera começou a melhorar e a dor diminuiu. Essa experiência pessoal foi o que me levou a estudar protocolos, conversar com angiólogos e fisioterapeutas e acompanhar dezenas de casos depois disso.

Neste artigo você vai entender, de forma prática e baseada em evidências, o que é terapia compressiva, como ela funciona, quando é indicada, como escolher e usar os dispositivos (meias, bandagens e aparelhos pneumáticos) e quais cuidados tomar para evitar riscos. Vou compartilhar dicas concretas que usei na rotina clínica e fontes confiáveis para você consultar.

Conteúdo

O que é terapia compressiva?

A terapia compressiva é o uso de pressão externa controlada sobre membros (mais frequentemente as pernas) para reduzir edema, melhorar o retorno venoso e linfático e favorecer a cicatrização de feridas venosas. Pense nela como “apertar” suavemente uma mangueira cheia de água para que o fluxo volte ao normal: a pressão externa direciona o líquido acumulado de volta para a circulação.

Como funciona — a lógica por trás

  • A pressão reduz a pressão capilar e a filtração de líquidos para o espaço intersticial.
  • Melhora o retorno venoso ao comprimir veias superficiais, aumentando o fluxo em direção ao coração.
  • Estimula o sistema linfático ao promover o movimento do fluido linfático.

Esses mecanismos ajudam a diminuir edema, aliviar dor e prevenir complicações como úlceras venosas. Estudos e revisões sistemáticas mostram benefícios claros da compressão em feridas venosas e na prevenção de trombose venosa em situações selecionadas (ver fontes ao fim).

Tipos de terapia compressiva

1. Meias de compressão (meias elásticas)

São as mais comuns para insuficiência venosa crônica leve a moderada e prevenção de edema. São classificadas por classe de compressão, medida em mmHg:

  • Classe 1: 15–20 mmHg — profilaxia, sintomas leves.
  • Classe 2: 20–30 mmHg — varizes sintomáticas, edema moderado.
  • Classe 3: 30–40 mmHg — insuficiência venosa mais severa, pós-operatório.
  • Classe 4: >40 mmHg — edema linfático grave; uso especializado.

2. Bandagem compressiva (multicamada)

Indicada em úlceras venosas e edemas mais volumosos. Bandagens de várias camadas oferecem alta pressão de repouso e boa pressão de trabalho durante a caminhada.

3. Terapia pressiva pneumática intermitente (TPPI)

Dispositivos com câmaras que inflaram/deflam automaticamente; usados em profilaxia de trombose e em alguns casos de linfedema.

Indicações comuns

  • Insuficiência venosa crônica e varizes sintomáticas.
  • Úlceras venosas (como componente da terapia com curativos).
  • Linfedema crônico (como parte da terapia descongestiva completa).
  • Prevenção de trombose venosa profunda em pacientes selecionados.
  • Edema pós-operatório ou decorrente de imobilidade.

Contraindicações e cuidados importantes

A terapia compressiva não é isenta de riscos. Use com cautela ou evite quando houver:

  • Doença arterial periférica grave (ABI — índice tornozelo-braço < 0,5: contraindicação; 0,5–0,8: avaliação cautelosa) — medir o ABI antes sempre que houver suspeita.
  • Infecção cutânea não tratada (avaliar e tratar antes de aplicar compressão agressiva).
  • Insuficiência cardíaca descompensada — pode aumentar a sobrecarga venosa.
  • Neuropatia sensorial severa (risco de lesão sem perceber dor).

Como escolher e usar: guia prático

Quer saber por onde começar? Aqui está um passo a passo prático que usei com pacientes e em casa:

  1. Consulte um profissional para avaliação inicial (médico vascular ou fisioterapeuta especializado).
  2. Meça o perímetro do tornozelo, da panturrilha e a altura do pé até o joelho em posição sentada/ortostática — essas medidas definem o tamanho da meia.
  3. Escolha a classe de compressão conforme indicação clínica: 20–30 mmHg como padrão para muitos casos crônicos; 30–40 mmHg para doenças maiores ou pós-operatório com indicação médica.
  4. Ao vestir meias, faça pela manhã, com o membro menos edemaciado. Use um auxílio para vestir se necessário.
  5. Combine com exercícios simples (flexão plantar/dorsal) e elevação das pernas quando possível — a atividade muscular aumenta a eficácia da compressão.
  6. Troque e lave conforme instruções do fabricante; observe sinais de má adaptação: dormência, dor intensa, palidez ou fria extremidade.

Dicas práticas e truques que funcionam

  • Para meias muito difíceis de calçar: use talco ou um donning aid (luvas de silicone).
  • Ao aplicar bandagem multicamada, mantenha a pele limpa e seca e sobreponha as voltas sem criar dobras.
  • Se houver ulcerações, a compressão deve fazer parte do plano com curativos adequados e acompanhamento semanal.
  • Registre fotos da ferida e medidas para acompanhar evolução — visual e objetivo.

Evidências e o que a literatura diz

Revisões sistemáticas e diretrizes mostram benefício claro da compressão em úlceras venosas e redução de edema em diversas situações. Por exemplo, uma revisão Cochrane encontrou que a compressão multilayer acelera a cicatrização de úlceras venosas comparada ao curativo sem compressão (Cochrane). Diretrizes de fisioterapia e linfologia recomendam a compressão como pilar do tratamento do linfedema em combinação com drenagem linfática manual (International Lymphoedema Framework).

Fontes: Cochrane (compressão para úlceras venosas), diretrizes de linfedema e protocolos clínicos do NHS e sociedades vasculares (links no final).

Possíveis efeitos adversos

  • Isquemia por compressão excessiva (principal risco quando há doença arterial).
  • Lesões de pele, bolhas ou dermatite de contato com o material.
  • Desconforto e aderência reduzida ao tratamento por uso prolongado sem orientação.

Perguntas frequentes rápidas (FAQ)

1. A terapia compressiva dói?

Se ajustada corretamente, não deve doer. Pode causar sensação de aperto. Dor intensa, formigamento ou alteração de cor exigem remoção imediata e avaliação.

2. Devo usar compressão durante a noite?

Depende do caso. Meias elásticas geralmente são usadas durante o dia; em casos de edema grave ou tratamento inicial de úlcera, bandagens podem permanecer por mais tempo conforme orientação profissional.

3. Como saber a classe de compressão correta?

O médico ou fisioterapeuta indica a classe baseada na gravidade dos sintomas e na avaliação arterial (ABI). Nunca escolha compressão muito alta sem avaliação prévia.

4. A compressão cura varizes?

Não cura varizes; alivia sintomas, melhora o edema e previne complicações. Procedimentos cirúrgicos ou ablativos tratam a causa das varizes.

Conclusão — resumo prático

A terapia compressiva é uma ferramenta comprovada e essencial no manejo de edemas, úlceras venosas e linfedema. Quando bem indicada e ajustada, acelera a recuperação e melhora a qualidade de vida. Mas atenção: medição correta, escolha da classe e avaliação arterial são passos obrigatórios para segurança.

FAQ rápido de dúvidas comuns

  • Como medir? — Perímetro do tornozelo e panturrilha, altura do joelho.
  • Quanto tempo usar? — Depende da condição; muitos pacientes usam diariamente por meses ou conforme orientação.
  • É para toda vida? — Alguns precisarão uso contínuo (insuficiência venosa crônica); outros usam temporariamente.

Termino com um conselho prático: comece por uma avaliação profissional, registre medidas e sintomas e não se desespere se os resultados demorarem — a compressão funciona, mas exige consistência. E você, qual foi sua maior dificuldade com terapia compressiva? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!

Fontes e leituras recomendadas:

Referência externa de grande autoridade utilizada: Cochrane (https://www.cochrane.org/) — fonte citada acima para evidências sobre compressão em úlceras venosas.

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