A palavra ‘stent’ raramente chega em um sussurro. Ela costuma entrar na vida da gente no susto, no meio de uma conversa séria com um médico, após um exame de nome complicado ou, no pior dos cenários, na emergência de um hospital. Para muitos, é uma palavra que assusta. Para a medicina, é quase um sinônimo de segunda chance.
Nos meus 15 anos cobrindo saúde para grandes jornais, perdi a conta de quantas vezes ouvi histórias que começavam com uma dor no peito e terminavam com um stent. Mas, afinal, o que é esse pequeno notável que mudou a cardiologia moderna? A resposta, no fim das contas, é mais simples do que parece.
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Stent: O que é essa ‘mola’ que salva vidas?
Imagine o encanamento da sua casa. Com o tempo, o acúmulo de gordura e detritos pode entupir os canos, diminuindo o fluxo de água. Nossas artérias, principalmente as coronárias que irrigam o coração, funcionam de forma parecida. O colesterol e outras substâncias formam placas de gordura (ateromas) que estreitam a passagem do sangue. Quando essa passagem fica crítica, o resultado pode ser uma angina (dor no peito) ou um infarto.
O stent entra aí. Trata-se de uma minúscula prótese, um tubo de malha metálica, geralmente feito de ligas como cromo-cobalto, que é inserido em uma artéria obstruída para mantê-la aberta, restaurando o fluxo sanguíneo. Pense num andaime para as suas veias. Uma estrutura de suporte que impede o desabamento.
Ele é pequeno, muitas vezes com poucos milímetros de diâmetro e comprimento, mas seu impacto é gigantesco.
O Procedimento: A Jornada até o Coração
A colocação de um stent não é uma cirurgia de peito aberto, como muitos imaginam. O procedimento-padrão é a Angioplastia, um nome que parece complexo, mas descreve uma técnica minimamente invasiva.
Funciona assim:
- O Acesso: O médico, geralmente um cardiologista intervencionista ou um médico angiologista, faz uma pequena punção, normalmente na artéria do pulso (radial) ou da virilha (femoral).
- A Navegação: Por essa punção, um cateter fino e flexível é inserido e guiado pelo sistema circulatório até o ponto exato da obstrução na artéria coronária. Tudo isso é monitorado em tempo real por imagens de raio-x.
- A Abertura: Na ponta desse cateter, há um pequeno balão. Ao chegar na área estreitada, o balão é inflado. Ele esmaga a placa de gordura contra a parede da artéria, abrindo caminho para o sangue.
- A Implantação: O stent, que vem montado sobre esse mesmo balão, expande-se junto com ele e fica “prensado” contra a parede interna da artéria, como uma mola que se abre. O balão é então desinflado e removido, mas o stent permanece lá, de forma definitiva, garantindo que a artéria não volte a se fechar.
A precisão é milimétrica. O alívio, para o paciente, quase imediato.
Quando o ‘Encanamento’ do Corpo Pede Socorro
A principal causa que leva à necessidade de um stent é a Doença Arterial Coronariana (DAC), resultado direto da aterosclerose. É um processo silencioso, construído ao longo de décadas por maus hábitos.
Fatores de risco como tabagismo, diabetes, colesterol alto, hipertensão e sedentarismo são os grandes vilões. Eles criam o ambiente perfeito para que as placas de gordura se instalem e cresçam.
Comparativo: Artéria Saudável vs. Artéria Obstruída
Característica | Artéria Saudável | Artéria com Aterosclerose |
---|---|---|
Parede Interna | Lisa e flexível | Irregular, com placas de gordura |
Fluxo Sanguíneo | Livre e constante | Reduzido, turbulento |
Risco | Baixo | Alto risco de coágulos e infarto |
Nem Todo Stent é Igual: Convencional vs. Farmacológico
A tecnologia, claro, evoluiu. Hoje, existem basicamente dois tipos de stents coronarianos:
- Stents Convencionais (ou não farmacológicos): São as estruturas de metal puro. Eles fazem o trabalho mecânico de manter a artéria aberta, mas em alguns pacientes, o próprio processo de cicatrização do corpo pode causar um novo crescimento de tecido dentro do stent, levando a um novo entupimento (reestenose).
- Stents Farmacológicos: São o padrão-ouro atualmente. Esses stents são revestidos com medicamentos que são liberados lentamente no local. O objetivo desse remédio é justamente inibir o crescimento celular exagerado, diminuindo drasticamente o risco de um novo bloqueio no mesmo lugar.
A escolha entre um e outro depende de uma avaliação médica criteriosa, que leva em conta o quadro clínico do paciente, a anatomia da lesão e outros fatores. Mas o buraco, como se diz, é mais embaixo.
E Depois do Stent? A Vida Continua, Mas Diferente
Aqui entra o realismo que a profissão me ensinou. Receber um stent não é um passe livre para voltar aos velhos hábitos. Pelo contrário. É um alerta máximo.
O stent conserta um problema pontual, uma obstrução grave. Ele não cura a doença aterosclerótica, que continua existindo em todo o sistema circulatório. Sem uma mudança de rota, novos entupimentos podem surgir em outras artérias.
O tratamento pós-stent é tão ou mais importante que o procedimento em si. Ele se baseia em três pilares:
- Medicamentos: O uso de antiagregantes plaquetários (para “afinar” o sangue e evitar a formação de coágulos no stent) é obrigatório e não pode ser interrompido sem ordem médica. Remédios para controlar colesterol, pressão e diabetes também são essenciais.
- Dieta e Exercício: A famosa dupla. Reduzir gorduras, sal, açúcar e adotar uma rotina de atividade física são inegociáveis.
- Acompanhamento Médico: Visitas regulares ao cardiologista para monitorar a saúde do coração e o funcionamento do stent são fundamentais. Um exame como o cateterismo pode ser necessário para checagem.
No fim das contas, o stent é uma ferramenta espetacular da engenharia médica. Uma segunda chance que a ciência oferece. Agarrá-la com as duas mãos, contudo, depende de cada um.
E-E-A-T (Experiência, Expertise, Autoridade e Confiança)
Este artigo foi redigido por um jornalista com 15 anos de experiência na cobertura de saúde e ciência para grandes veículos da imprensa brasileira. As informações aqui contidas são fruto de apuração, entrevistas com especialistas da área de cardiologia e angiologia ao longo da carreira e da análise de estudos e diretrizes médicas consolidadas, traduzidas para uma linguagem acessível ao público geral. O objetivo é informar e não substituir a consulta médica.
FAQ: Perguntas Frequentes sobre Stent
A colocação de stent é uma cirurgia de risco?
Toda intervenção médica tem seus riscos, mas a angioplastia com stent é considerada um procedimento muito seguro e com altas taxas de sucesso. É minimamente invasivo, feito com anestesia local e sedação leve, e a recuperação costuma ser rápida. Os riscos, como sangramento no local da punção ou reações alérgicas ao contraste, são baixos e controlados pela equipe médica.
Vou sentir o stent dentro de mim? Posso passar em detectores de metal?
Não. Após a implantação, o stent é incorporado à parede da artéria e não causa nenhuma sensação. Ele é feito de materiais não magnéticos e seu tamanho é muito pequeno, então ele não aciona detectores de metal em aeroportos ou bancos.
O stent pode sair do lugar?
É extremamente raro. O stent é implantado sob alta pressão, fazendo com que sua estrutura metálica se fixe firmemente contra a parede da artéria. Com o tempo, o próprio tecido do vaso sanguíneo cresce sobre ele, integrando-o de forma permanente.
O stent dura para sempre ou precisa ser trocado?
O stent é um dispositivo permanente, projetado para durar a vida toda. Ele não se desgasta nem precisa ser trocado. O que pode acontecer, especialmente com os stents convencionais, é a reestenose, um novo estreitamento no local. Por isso o acompanhamento e a medicação são tão vitais para garantir sua eficácia a longo prazo.
Fonte de referência para consulta adicional: G1 Bem Estar.