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Escleroterapia: A Solução Para os Vasinhos é Tão Simples Quanto Parece?
Eles aparecem sem pedir licença. Primeiro um, depois outro. Aqueles risquinhos vermelhos e roxos que teimam em desenhar mapas indesejados nas pernas. Os chamados “vasinhos”, ou telangiectasias no jargão médico, são uma queixa comum, que lota os consultórios de angiologistas e cirurgiões vasculares. A promessa para dar um fim a eles atende pelo nome de escleroterapia.
O nome pode soar complicado, mas a premissa é direta: injetar uma substância dentro do vaso para irritá-lo, fazendo com que ele se feche, inflame e, por fim, seja absorvido pelo próprio corpo. Desaparece. Simples assim.
Mas o buraco, como quase sempre em medicina, é um pouco mais embaixo. A escleroterapia não é um passe de mágica. É um procedimento médico que, embora consolidado e seguro quando bem executado, exige diagnóstico, técnica e, principalmente, expectativas realistas.
Não é Só Estética, é Saúde (Mas a Estética Puxa a Fila)
Sejamos honestos: a maioria das pessoas bate na porta de um consultório vascular por incômodo estético. É o desejo de usar uma saia, um short ou de simplesmente olhar para as próprias pernas sem o desconforto visual dos emaranhados vasculares. E não há nada de errado com isso.
“Eu não aguentava mais olhar para aquele monte de ‘aranhinhas’ atrás do meu joelho”, conta Amanda G., advogada de 42 anos. “Era só isso, no começo. Mas depois que comecei o tratamento, percebi que aquela sensação de peso e cansaço que eu sentia no fim do dia… sabe? Melhorou muito. Eu achava que era só do trabalho, de ficar sentada. Não era.”
O relato de Amanda ilustra um ponto crucial. Muitas vezes, os pequenos vasinhos são a ponta do iceberg de um problema de circulação subjacente, um quadro de insuficiência venosa crônica. Eles podem ser o primeiro sinal visível de que as varizes de maior calibre, mais profundas, não estão trabalhando como deveriam. Ignorá-los pode ser mais do que uma questão de aparência. Pode ser uma questão de saúde vascular.
Como Funciona o Procedimento na Prática?
O processo é menos intimidador do que parece. Após uma avaliação criteriosa do médico, que pode incluir um ultrassom com Doppler para mapear as veias, a sessão de escleroterapia em si é relativamente rápida.
- Assepsia: A pele da região a ser tratada é limpa para evitar infecções.
- Aplicação: Com uma agulha extremamente fina, o médico injeta uma pequena quantidade da substância esclerosante diretamente dentro do vasinho. A sensação é de uma picada leve, seguida por uma ardência momentânea.
- Compressão: Após as aplicações, é comum que o médico faça uma leve compressão no local ou indique o uso de meias de compressão, que são fundamentais para o sucesso do tratamento.
A substância injetada provoca uma reação inflamatória controlada na parede interna do vaso. Essa inflamação faz com que as paredes do vaso “colem” uma na outra, interrompendo o fluxo de sangue. Com o tempo, esse vaso inativo é absorvido e eliminado pelo organismo. É um processo. Não é imediato.
Tabela Comparativa: Escleroterapia Líquida vs. com Espuma
Existem variações da técnica, sendo as mais comuns a com líquido (glicose, geralmente) e a com espuma (polidocanol). Cada uma tem sua indicação.
Característica | Escleroterapia Líquida (Glicose) | Escleroterapia com Espuma |
---|---|---|
Indicação Principal | Vasinhos finos e de pequeno calibre (telangiectasias). | Varizes de maior calibre, veias safenas insuficientes e casos mais complexos. |
Mecanismo | Substância hipertônica que desidrata e irrita a parede do vaso. | A espuma desloca o sangue, permitindo maior contato do esclerosante com a parede do vaso. É mais potente. |
Sensação | Leve ardência durante a aplicação. | Pode causar uma cãibra ou desconforto um pouco maior no trajeto da veia. |
Pós-procedimento | Geralmente mais tranquilo, com menos chance de manchas. | Requer mais cuidados, como uso rigoroso de meias de compressão, e tem maior risco de hiperpigmentação (manchas escuras). |
Riscos e a Verdade Nua e Crua: Nem Tudo São Flores
É aqui que o ceticismo jornalístico se faz necessário. A escleroterapia é segura, mas não isenta de efeitos colaterais. É fundamental colocar na ponta do lápis os prós e os contras.
Os efeitos mais comuns são passageiros:
- Pequenos hematomas (roxos) nos locais das picadas.
- Leve inchaço e vermelhidão na área.
- Formação de pequenas “casquinhas”.
O efeito que mais preocupa os pacientes é a hiperpigmentação ocre, ou seja, o surgimento de manchas acastanhadas sobre o trajeto do vaso tratado. Elas ocorrem pelo extravasamento de hemoglobina e, embora tendam a desaparecer com o tempo, podem levar meses para sumir completamente. Evitar o sol é a regra de ouro para minimizar esse risco.
“O sucesso do tratamento de varizes depende de um tripé: diagnóstico correto, execução técnica perfeita e, crucialmente, o alinhamento de expectativas com o paciente”, afirma um cirurgião vascular que prefere não se identificar. “Não vendemos a ausência de percalços. Vendemos um tratamento médico eficaz, com seus possíveis efeitos adversos, que na maioria das vezes são contornáveis. Transparência é tudo”.
Em casos raros, podem ocorrer complicações mais sérias como tromboflebite superficial, reações alérgicas ou até mesmo trombose venosa profunda, especialmente em tratamentos com espuma em veias de grosso calibre. Por isso, a escolha de um profissional qualificado não é um detalhe. É a base de tudo.
Perguntas Frequentes (FAQ)
A escleroterapia dói muito?
A percepção de dor é individual, mas a maioria dos pacientes relata um desconforto totalmente suportável. A sensação é de múltiplas “picadinhas” de agulha fina, seguidas por uma leve ardência que dura poucos segundos. Não é um procedimento indolor, mas está longe de ser considerado muito doloroso.
Quantas sessões são necessárias para ver o resultado?
É impossível definir um número exato sem avaliação. A quantidade de sessões depende diretamente da quantidade e do calibre dos vasos a serem tratados. Geralmente, são necessárias de 3 a 6 sessões, com intervalos de 15 a 30 dias entre elas, para se obter um resultado satisfatório em uma determinada área.
Os vasinhos tratados podem voltar?
Não. Um vaso que foi devidamente tratado e absorvido pelo organismo não volta a aparecer. O que acontece é que a insuficiência venosa é uma condição crônica e progressiva. Novos vasinhos podem surgir em outros locais ao longo do tempo, exigindo sessões de manutenção.
Existe alguma contraindicação?
Sim. O procedimento é contraindicado para gestantes, lactantes, pessoas com alergia conhecida à substância esclerosante, portadores de doenças arteriais obstrutivas graves, trombose venosa profunda ou embolia pulmonar recentes e infecções de pele ativas no local da aplicação.
Preciso me afastar do trabalho ou de atividades físicas?
Na maioria dos casos, não. Após a escleroterapia para vasinhos (líquida), o retorno às atividades diárias é imediato. Recomenda-se evitar exercícios de alto impacto no mesmo dia. A principal recomendação é o uso de meias de compressão, conforme orientação médica, e evitar a exposição solar direta na área tratada por cerca de 15 a 30 dias para prevenir manchas.
Fonte de apuração complementar: Portal de notícias G1 Saúde.