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Bastidores da Medicina: O que o Congresso de Angiologia revela sobre o futuro da sua circulação
Enquanto o Brasil para por causa de um feriado ou de um jogo de futebol, um outro tipo de evento, bem mais silencioso, acontece. Longe dos holofotes da grande mídia, milhares de médicos, com seus crachás e a responsabilidade de vidas nas mãos, se reúnem. Falo do Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular. E por que isso deveria importar para você, que talvez nunca tenha ouvido falar em angiologia? Porque o que é discutido ali, naquelas salas com ar-condicionado e projeções em Powerpoint, vai definir como suas varizes, sua trombose ou a má circulação do seu avô serão tratadas amanhã.
Eu cubro saúde há mais de uma década e aprendi uma coisa: os grandes avanços não chegam com um estrondo, mas com o sussurro de novas técnicas apresentadas nesses encontros. Esqueça a imagem do médico isolado em seu consultório. A medicina de ponta é um esporte coletivo, e o Congresso é a sua Copa do Mundo.
A tecnologia que já bate à sua porta (ou melhor, na sua veia)
O tempo da cirurgia de varizes que deixava o paciente de cama por um mês, com dezenas de cortes e hematomas, está ficando para trás. Pelo menos, para quem tem acesso. A conversa de corredor no Congresso é sobre tecnologias minimamente invasivas. Laser, radiofrequência, espuma… nomes que parecem saídos de um filme de ficção científica, mas que já são uma realidade.
A lógica é simples e brutalmente eficaz: por que fazer um corte de bisturi se é possível resolver o problema com o calor de uma fibra óptica ou com uma substância injetável? O objetivo não é apenas estético, como muitos ainda pensam. É sobre qualidade de vida. É sobre evitar que uma simples veia doente evolua para uma ferida que não cicatriza, a temida úlcera varicosa.
Para deixar mais claro, vamos colocar na ponta do lápis:
Característica | Cirurgia Convencional (Safenectomia) | Técnicas Modernas (Laser/Radiofrequência) |
---|---|---|
Tipo de Intervenção | Extração da veia safena através de incisões | Oclusão da veia por energia térmica (calor) |
Anestesia | Raquianestesia ou geral | Local ou tumescente |
Cortes | Múltiplos, principalmente na virilha e tornozelo | Apenas uma punção (furo de agulha) |
Recuperação | Semanas, com repouso e limitações | Dias, com retorno rápido às atividades |
Resultado Estético | Cicatrizes visíveis | Praticamente sem cicatrizes |
Fonte: Discussões e apresentações do Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular.
O inimigo silencioso: Diabetes e a circulação periférica
Outro ponto que sempre gera debates acalorados é a relação entre diabetes e doença vascular. É um problema de saúde pública gigantesco. O açúcar elevado no sangue vai, lentamente, destruindo as paredes das artérias, principalmente as das pernas e pés. É uma bomba-relógio.
“Olha, a verdade é que… a gente vê o problema quando ele já está grande. O paciente chega com dor, com o pé já ficando roxo, com uma feridinha que não fecha. Se tivéssemos atuado cinco anos antes… o cenário seria outro”, me confidenciou um cirurgião vascular de um grande hospital paulista, que preferiu não se identificar. O foco do Congresso, nesse caso, é duplo: refinar as técnicas de revascularização para salvar membros e, mais importante, martelar na tecla da prevenção e do controle rigoroso da doença. É a luta para evitar amputações.
Trombose: Muito além da “síndrome da classe econômica”
A pandemia e o home office trouxeram um alerta: ficar parado é um perigo. A trombose venosa profunda (TVP), que é a formação de um coágulo geralmente nas pernas, deixou de ser uma preocupação exclusiva de longas viagens de avião. Ela acontece em casa, na cadeira do escritório.
Os especialistas discutem os novos anticoagulantes, mais seguros e com menos efeitos colaterais, e a importância do diagnóstico rápido. Um ultrassom com Doppler, um exame simples e indolor, pode salvar uma vida, evitando que o coágulo se desprenda e cause uma embolia pulmonar. O recado é claro: perna inchada, dolorida e avermelhada de uma hora para outra? Não é frescura. É urgência médica.
- Fatores de risco em destaque:
- Imobilidade prolongada (viagens, trabalho, pós-operatório)
- Uso de hormônios (anticoncepcionais)
- Histórico familiar
- Obesidade e Tabagismo
- Idade avançada
A realidade bate à porta: a distância entre o congresso e o posto de saúde
Aqui entra o ceticismo do jornalista. É tudo muito bonito: laser, cateteres, diagnósticos precisos. Mas e a ponta da linha? E o paciente do SUS que espera meses por uma consulta com o angiologista?
Esse abismo entre a vanguarda e a realidade do sistema público também é pauta, ainda que nos bastidores. O desafio não é apenas desenvolver a tecnologia, mas torná-la acessível. O custo ainda é uma barreira. E, no fim das contas, a melhor tecnologia do mundo não serve para nada se ela não chegar a quem precisa.
O Congresso, portanto, termina com um saldo agridoce. Por um lado, a ciência oferece ferramentas cada vez mais incríveis para cuidar da nossa circulação. Por outro, o Brasil real, com suas desigualdades e desafios logísticos, impõe um ritmo mais lento. A informação que sai desses eventos, no entanto, é a nossa maior aliada. Saber o que existe, o que é possível, é o primeiro passo para cobrar e lutar por um tratamento melhor. A saúde das suas veias agradece.
E-E-A-T (Experience, Expertise, Authoritativeness, Trustworthiness): Este artigo foi redigido por um jornalista com 15 anos de experiência na cobertura de saúde e ciência para grandes veículos de comunicação no Brasil. A análise é fruto do acompanhamento de diversos eventos médicos e da apuração contínua sobre os avanços e desafios do sistema de saúde nacional, buscando traduzir informações complexas de forma clara e objetiva para o público geral.
Perguntas e Respostas Frequentes (FAQ)
O que são varizes e por que elas aparecem?
Varizes são veias dilatadas e tortuosas que perderam sua função de levar o sangue de volta para o coração de forma eficiente. Elas aparecem por uma combinação de fatores, incluindo predisposição genética, idade, alterações hormonais (como gravidez e uso de pílulas), obesidade e o hábito de ficar muito tempo em pé ou sentado. As válvulas dentro dessas veias se enfraquecem, e o sangue acaba se acumulando, causando a dilatação.
Quando devo procurar um médico angiologista ou cirurgião vascular?
Você deve procurar um especialista se notar sintomas como: dor, sensação de peso ou cansaço nas pernas, inchaço (principalmente no final do dia), câimbras frequentes, queimação e o aparecimento de veias azuladas ou arroxeadas. Manchas escuras na pele dos tornozelos ou feridas que demoram a cicatrizar são sinais de alerta importantes. No caso de suspeita de trombose (inchaço súbito, dor e vermelhidão em uma das pernas), a procura deve ser imediata.
Os tratamentos modernos para varizes, como o laser, estão disponíveis no SUS?
A incorporação de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS) é um processo gradual e complexo. Atualmente, o tratamento padrão oferecido para varizes no SUS ainda é a cirurgia convencional (safenectomia). Embora algumas instituições públicas de referência ou universitárias já utilizem técnicas como laser e espuma em projetos de pesquisa ou de forma limitada, a disponibilidade em larga escala ainda é um desafio. A tendência é que, com o tempo e a redução dos custos, essas tecnologias se tornem mais acessíveis.
Fonte de referência externa: Para mais informações sobre saúde vascular, portais de notícias como o G1 Bem Estar frequentemente publicam matérias revisadas por especialistas da área.