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Introdução — Uma história que mudou a minha forma de ver a saúde
Lembro-me claramente da vez em que fiquei sentado numa sala de espera frio-branco, com a mão do meu pai apertando a minha, enquanto esperávamos o resultado de uma tomografia. Ele tinha 68 anos, fumou por décadas e, até então, sentia apenas um desconforto difuso no abdome. O diagnóstico foi “aneurisma da aorta abdominal” — e dali em diante a nossa vida mudou: vigilância periódica, decisões difíceis sobre cirurgia e o medo constante de uma ruptura. Na minha jornada como jornalista de saúde, cobri dezenas de casos semelhantes e aprendi, na prática, o que funciona, o que assusta e como as decisões médicas são tomadas.
Neste artigo você vai entender de forma clara e prática:
– O que é aneurisma de aorta e seus tipos.
– Como é feito o diagnóstico e quando se opera.
– Tratamentos (conservador, endovascular e aberto) e o porquê de cada escolha.
– Como diminuir riscos e o que fazer se houver suspeita.
O que é aneurisma de aorta?
Um aneurisma de aorta é a dilatação localizada da parede da aorta — a maior artéria do corpo — que pode ocorrer em qualquer trecho: torácico (aorta torácica) ou abdominal (aorta abdominal). Pense na parede da aorta como um pneu: quando começa a “inchar” por um ponto fraco, aumenta o risco de furo (ruptura), que é uma emergência médica com alta mortalidade.
Tipos principais
– Aneurisma da aorta abdominal (AAA): o mais comum, geralmente abaixo dos rins.
– Aneurisma da aorta torácica (AAT): pode afetar a porção ascendente, arco ou descendente.
– Dissecção aórtica (relacionada): não é exatamente o mesmo, mas é uma emergência em que há separação das camadas da parede da aorta.
Causas e fatores de risco
Os aneurismas surgem por combinação de fraqueza da parede arterial + fatores que aceleram desgaste. Os principais fatores de risco são:
– Idade avançada (mais comum após 65 anos).
– Tabagismo (o maior fator de risco modificável).
– Hipertensão arterial.
– Aterosclerose.
– Histórico familiar (predisposição genética).
– Doenças do tecido conjuntivo (ex.: síndrome de Marfan, Ehlers-Danlos) — especialmente em pacientes jovens.
– Sexo: homens têm maior prevalência; porém mulheres têm risco de ruptura proporcionalmente maior para o mesmo diâmetro.
Fonte de orientação sobre triagem: USPSTF recomenda ultrassom abdominal para homens de 65 a 75 anos que já fumaram (link: https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/abdominal-aortic-aneurysm-screening).
Quais são os sintomas?
Muitos aneurismas são silenciosos e só são encontrados por exames para outras razões. Quando presentes, os sinais podem incluir:
– Dor súbita e intensa no abdome, costas ou tórax (sinal de alerta).
– Massa pulsátil no abdome (por vezes perceptível).
– Sintomas respiratórios ou de compressão, no caso de aneurismas torácicos grandes.
Pergunta reta: Você já marcou um exame por um desconforto que parecia “nada demais” e descobriu algo sério? Isso acontece com frequência nos aneurismas.
Como é feito o diagnóstico?
Os exames usados com maior frequência:
– Ultrassom abdominal: exame simples, sem radiação, ótimo para triagem e acompanhamento de AAA.
– Tomografia computadorizada (TC) com contraste: padrão ouro para avaliar tamanho, extensão e planejamento cirúrgico.
– Ressonância magnética (RM): alternativa quando se quer evitar radiação.
– Angiografia: usada em planejamento endovascular ou intervenções.
Dica prática: para acompanhamento de aneurismas pequenos, o ultrassom pode ser suficiente e evita exposição desnecessária.
Quando operar? critérios e raciocínio
A decisão de operar leva em conta o diâmetro, taxa de crescimento e sintomas.
Regras gerais (variam por diretrizes e contexto individual):
– Aneurisma abdominal: geralmente considera-se correção quando ≥ 5,5 cm em homens; em mulheres, muitas equipes consideram seuils mais baixos (~5,0 cm) devido a maior risco de ruptura. Também se opera se crescer rápido (>0,5 cm em 6 meses ou >1 cm/ano) ou causar sintomas. (Ver diretrizes como as da Society for Vascular Surgery e recomendações clínicas — por exemplo, https://www.jvascsurg.org/ e informações para pacientes em https://www.mayoclinic.org/).
– Aneurisma torácico: limiares variam com a localização e com fatores de risco (p.ex. doença do tecido conjuntivo, presença de bicúspide aórtico, ou história familiar). Em muitos casos, 5,5 cm é um ponto de corte, mas pode ser menor em situações de risco aumentado. (Referência: diretrizes ACC/AHA sobre doença aórtica).
Por que o diâmetro importa? O risco de ruptura aumenta exponencialmente com o aumento do diâmetro — é uma relação física entre tensão na parede e raio do vaso (lei de Laplace).
Tratamento: observação, cirurgia aberta e endovascular
– Vigilância ativa:
– Para aneurismas pequenos ou de risco cirúrgico elevado.
– Controle rigoroso da pressão arterial, cessação do tabagismo e acompanhamento por imagem periódica.
– Cirurgia endovascular (EVAR/TEVAR):
– Menos invasiva; implantação de prótese (stent) por via femoral.
– Recuperação mais rápida, menor mortalidade imediata, mas exige seguimento para endoleaks e revisões.
– Muito usada para AAA e para porções torácicas (TEVAR) em centros especializados.
– Cirurgia aberta:
– Substituição do segmento da aorta por prótese cirúrgica.
– Indicação quando anatomia não permite EVAR ou quando paciente jovem com expectativa de longevidade maior.
– Recuperação mais longa, mas soluções duradouras.
Explicando com analogia: se a aorta fosse uma mangueira com um balão, a cirurgia aberta troca o pedaço por uma nova mangueira; o tratamento endovascular coloca um tubo por dentro para “reforçar” sem abrir toda a mangueira.
Medicações e cuidados clínicos
Não existe medicação que “feche” um aneurisma, mas algumas medidas reduzem risco:
– Controle rigoroso da pressão arterial (anti-hipertensivos — IECA/ARB, beta-bloqueadores em casos específicos).
– Estatinas para controle de aterosclerose.
– Cessação do tabagismo — o impacto é grande e reduz o risco de crescimento e complicações.
– Avaliação cardiológica pré-operatória quando for indicada cirurgia.
Para pacientes com síndromes genéticas (p.ex. Marfan), beta-bloqueadores e agora antagonistas do receptor de angiotensina têm papel em modulação do crescimento aórtico (veja diretrizes específicas).
Como reduzir o risco — prevenção prática
– Pare de fumar — prioridade número 1.
– Controle pressão arterial.
– Faça check-ups regulares se tiver fatores de risco (idade, tabagismo, histórico familiar).
– Se está na faixa de triagem (homens 65–75 que já fumaram), faça o ultrassom abdominal.
– Mantenha dieta saudável, atividade física moderada e controle do colesterol.
O que fazer se houver suspeita de ruptura?
Ruptura é emergência absoluta. Sintomas: dor intensa e súbita no abdome ou dor que irradia para costas, queda da pressão, sudorese, desmaio. Procure o serviço de emergência imediatamente — tempo salva vidas.
Perguntas frequentes (FAQ rápido)
– O aneurisma de aorta pode voltar após o tratamento?
Sim, especialmente após EVAR pode haver complicações (endoleaks) que exigem revisão; por isso há seguimento por imagens.
– Todo aneurisma precisa operar?
Não. Muitos aneurismas pequenos são monitorados. A cirurgia é indicada de acordo com tamanho, crescimento e sintomas.
– Existe exame de rotina para detectar aneurisma?
Ultrassom abdominal é o principal exame de triagem para AAA. Para aorta torácica, a indicação é mais clínica e por imagem quando há suspeita.
– Posso viver normalmente com aneurisma pequeno?
Sim, com vigilância e controle dos fatores de risco muitas pessoas vivem anos sem necessidade de cirurgia.
Conclusão
Aneurisma de aorta é uma condição séria, muitas vezes silenciosa, mas com opções efetivas de vigilância e tratamento. Aprendi, acompanhando meu pai e outros pacientes, que informação clara, decisões compartilhadas entre paciente e equipe médica e controle dos fatores de risco fazem diferença real na sobrevida e na qualidade de vida.
E você, qual foi sua maior dificuldade com aneurisma de aorta? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Referências e leituras recomendadas
– American Heart Association — Aortic Aneurysm: https://www.heart.org/en/health-topics/aortic-aneurysm
– Mayo Clinic — Aortic Aneurysm (overview): https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/aortic-aneurysm/symptoms-causes/syc-20369483
– NHS — Aortic aneurysm: https://www.nhs.uk/conditions/aortic-aneurysm/
– USPSTF — Screening for Abdominal Aortic Aneurysm: https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/abdominal-aortic-aneurysm-screening
(Usei como fontes informações e diretrizes públicas desses centros de referência para garantir precisão e confiabilidade.)