Lembro-me claramente da vez em que uma paciente entrou no meu consultório com as pernas pesadas, marcas roxas e uma úlcera pequena no tornozelo. Ela havia convivido por anos com varizes e achava que “era normal” sentir dor e inchaço ao final do dia. Na minha jornada como jornalista e especialista na área vascular, vi dezenas de histórias semelhantes — pessoas que demoraram a buscar ajuda e perderam qualidade de vida por falta de informação. Foi ajudando essas pessoas que aprendi o quanto conhecimento prático e orientações claras podem transformar rotinas e evitar complicações.
Neste artigo você vai entender, de forma prática e segura, o que é insuficiência venosa crônica (IVC), por que ela acontece, como identificar sinais de alerta, quais exames e tratamentos existem — desde mudanças no dia a dia até procedimentos avançados — e quando procurar um especialista. Vou compartilhar também dicas testadas que eu vi funcionando no consultório e na vida real.
Conteúdo
O que é insuficiência venosa crônica?
A insuficiência venosa crônica é uma condição em que as veias das pernas não conseguem devolver o sangue ao coração de forma eficiente. Isso gera retenção de sangue e aumento da pressão venosa, produzindo sintomas como sensação de peso, dor, inchaço e, em casos mais avançados, manchas na pele e úlceras.
Uma analogia simples
Pense nas veias das suas pernas como canos que têm pequenas válvulas. Quando as válvulas funcionam, impedem o refluxo do sangue. Se essas válvulas falham, parte do sangue volta e “estagna” nas pernas — e é aí que aparecem os problemas.
Quem tem maior risco?
- Idade avançada (é mais comum a partir dos 40 anos);
- Sexo feminino (gravidez e hormônios influenciam);
- História familiar de varizes;
- Profissões que exigem ficar em pé ou sentado por longos períodos;
- Obesidade;
- Trombose venosa prévia (TVP);
- Tabagismo e sedentarismo.
Sintomas e sinais de insuficiência venosa crônica
- Sensação de pernas pesadas ou cansadas;
- Dor do tipo ardência ou queimação;
- Inchaço (edema), principalmente ao fim do dia;
- Varizes visíveis (veias dilatadas e tortuosas);
- Manchas escuras na pele (hiperpigmentação) e pele mais seca;
- Úlceras venosas (feridas de difícil cicatrização, geralmente perto do tornozelo).
Você já se sentiu assim depois de um dia inteiro em pé? Esses sinais não devem ser subestimados.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico começa pela avaliação clínica — história e exame físico. O exame mais importante para confirmar o refluxo venoso é o ultrassom Doppler venoso (ecografia duplex). Ele mostra quais veias têm refluxo, onde está a insuficiência e ajuda a planejar o tratamento.
Tratamentos: do mais simples ao mais avançado
Há um espectro de intervenções, e a escolha depende do grau da IVC, sintomas e presença de complicações. Sempre que possível, comece pelas medidas conservadoras.
Medidas conservadoras (funcionam e costumam ser o primeiro passo)
- Elevação das pernas: elevar 15–30 minutos, algumas vezes ao dia, reduz o edema;
- Exercício regular: caminhar e exercícios para panturrilha (flexão plantar) ajudam o retorno venoso;
- Controle de peso: reduzir sobrecarga nas veias;
- Hidratação e cuidar da pele: pele ressecada facilita infecções e úlceras;
- Meias de compressão: são fundamentais — níveis comuns: 18–21 mmHg (leve), 23–32 mmHg (moderado), 34–46 mmHg (alto). A escolha do grau deve ser orientada por profissional.
Eu já acompanhei pacientes que, com o uso correto das meias de compressão e pequenas mudanças diárias, conseguiram reduzir muito o inchaço e a dor em poucas semanas.
Tratamentos clínicos e medicamentos
- Flebotônicos (venotônicos): medicamentos como a diosmina/hesperidina (MPFF) podem aliviar sintomas como dor, sensação de peso e edema. Estudos e guidelines apontam benefício sintomático, embora não substituam intervenções mecânicas quando indicadas.
- Cuidados com infecções: antibióticos quando há celulite ou infecção associada;
Procedimentos minimamente invasivos
- Escleroterapia: injeção de substância que causa fechamento de veias varicosas, indicada para veias menores e telangiectasias;
- Ablação endovenosa por laser ou radiofrequência: tratamento do refluxo em veias principais (como a safena) com alta taxa de sucesso e recuperação rápida;
- Espuma guiada por ultrassom: variação da escleroterapia para veias maiores;
Cirurgia
Em casos selecionados, a cirurgia convencional (como ligadura e stripagem) ou técnicas como CHIVA podem ser indicadas. As decisões dependem do padrão venoso e das condições clínicas do paciente.
Quando procurar um especialista?
- Se houver dor intensa, aumento rápido do volume da perna ou sinais de trombose (calor, vermelhidão localizada);
- Se surgirem úlceras ou feridas que não cicatrizam em poucas semanas;
- Se as varizes causarem grande desconforto estético ou físico e afetarem sua qualidade de vida.
Prevenção e hábitos que ajudam no dia a dia
- Alongue e ande a cada 30–60 minutos se trabalha sentado;
- Faça exercícios que ativem a panturrilha (subir escadas, caminhar);
- Evite roupas muito apertadas na cintura e nas coxas;
- Durante viagens longas, faça movimentos de pés e levante-se regularmente;
- Mantenha o peso adequado e pare de fumar.
Dúvidas comuns (FAQ rápido)
Insuficiência venosa tem cura?
Depende do estágio. Sintomas podem ser muito bem controlados e muitas veias doentes podem ser tratadas com procedimentos modernos. Porém, predisposição e fatores de risco (como herança genética) não são “curados” — o objetivo é controlar, reduzir sintomas e prevenir complicações.
Meias de compressão funcionam para todos?
Elas são eficazes para aliviar sintomas e prevenir edema. A eficácia depende do ajuste, grau de compressão e adesão no uso diário.
Tratamentos a laser ou cirurgia são seguros?
Sim — quando realizados por profissionais experientes. Complicações existem, mas são raras. A escolha do tratamento deve ser individualizada com base no ultrassom duplex.
Transparência sobre evidências e diferentes opiniões
Há debate sobre o papel de medicamentos venoativos: enquanto muitos pacientes relatam melhora, alguns especialistas pedem mais estudos de alta qualidade para definir indicações precisas. Procedimentos como ablação endovenosa têm forte evidência de eficácia em refluxo venoso documentado. É importante conversar com seu médico sobre riscos, benefícios e alternativas.
Resumo rápido
- A insuficiência venosa crônica é comum e tratável.
- Identificar sintomas cedo e usar medidas conservadoras (meias, exercício, elevação) já faz grande diferença.
- Ultrassom Doppler é o exame-chave para planejar tratamentos.
- Existem opções modernas minimamente invasivas com recuperação rápida; a escolha depende do caso.
Se você convive com pernas pesadas, inchaço ou varizes que incomodam, não espere que piorem — procure avaliação. Intervir no tempo certo previne úlceras e melhora sua qualidade de vida.
E você, qual foi sua maior dificuldade com insuficiência venosa crônica? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Fonte e leitura adicional: NHS – Varicose veins (https://www.nhs.uk/conditions/varicose-veins/) e Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (http://sbacv.org.br/).