Lembro-me claramente da vez em que uma amiga próxima me ligou às 3 da manhã, chorando porque as pernas inchadas e a dor a impediam de dormir. Ela tinha sido orientada por várias fontes contraditórias — “toma remédio”, “faz compressão”, “espera a cirurgia” — e estava perdida. Na minha jornada como jornalista especializado em saúde vascular por mais de 10 anos, vi dezenas de histórias assim: pessoas cansadas de conviver com dor, inchaço e feridas por falta de informação clara. Foi esse tipo de encontro que me motivou a escrever este guia prático e humano sobre insuficiência venosa crônica.
Neste artigo você vai aprender, de forma simples e aplicada: o que é insuficiência venosa crônica, por que ela acontece, como identificar os sintomas, quais exames pedir, as opções de tratamento (desde medidas simples até procedimentos modernos), como prevenir agravamentos e quando procurar um especialista.
Conteúdo
O que é insuficiência venosa crônica?
A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma condição em que as veias das pernas não conseguem devolver o sangue eficientemente ao coração. Isso causa acúmulo de sangue e pressão nas veias, com sintomas como dor, sensação de peso, cãibras, inchaço e, em casos mais avançados, alterações da pele e úlceras.
Por que isso acontece? (Explicando de forma simples)
Pense nas veias como canos com válvulas internas que evitam o refluxo do sangue. Quando essas válvulas enfraquecem ou quando há obstrução venosa, o sangue volta a “estagnar” nas pernas.
- Fraqueza das válvulas venosas (primária).
- Eventos que danificam a veia, como trombose (trombose venosa profunda) — chamada IVC pós-trombótica.
- Fatores que aumentam a pressão venosa: obesidade, ficar horas em pé ou sentado, gravidez.
Quem tem mais risco?
- Idade avançada.
- Histórico familiar de varizes ou IVC.
- Trabalhos com longos períodos em pé ou sentado.
- Obesidade.
- Gravidez (devido às mudanças hormonais e pressão abdominal).
- História prévia de trombose venosa profunda.
Quais são os sinais e sintomas?
Você já se sentiu com as pernas pesadas no fim do dia? Isso pode ser um sinal inicial.
- Peso, cansaço e dor nas pernas, que pioram ao fim do dia.
- Inchaço (edema), especialmente tornozelos e pés.
- Varizes visíveis (veias dilatadas e tortuosas).
- Alterações da pele: escurecimento (hiperpigmentação), eczema venoso.
- Úlceras venosas — feridas crônicas, geralmente ao redor do maléolo.
- Cãibras e formigamento.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico começa pela avaliação clínica. O médico examina, pergunta sobre histórico e sinais de trombose.
Os principais exames complementares são:
- Ecodoppler venoso (ultrassom): avalia refluxo e trombose — é o padrão-ouro não invasivo.
- Fotografias e medidas para acompanhar úlceras.
- Em casos selecionados: venografia ou ressonância venosa.
Tratamentos: do mais simples ao mais avançado
Nem toda insuficiência venosa exige cirurgia. Eu mesma vi pacientes melhorarem muito com medidas simples e disciplina — outras vezes o tratamento intervencionista foi transformador.
Mudanças no estilo de vida (fundamentais)
- Elevar as pernas várias vezes ao dia por 15–20 minutos.
- Evitar ficar longos períodos em pé ou sentado; mover-se a cada 30–60 minutos.
- Perder peso quando necessário — redução da pressão venosa.
- Exercícios que ativam a “bomba” da panturrilha: caminhada, subir escadas, bicicleta.
Meias de compressão
As meias de compressão são a base do tratamento conservador. Elas melhoram o retorno venoso, reduzem dor e edema e ajudam a cicatrizar úlceras.
Elas devem ser prescritas por grau de compressão adequado. Já vi casos em que o uso incorreto (tamanho errado) causou desconforto e abandono do tratamento — por isso a orientação profissional é essencial.
Medicamentos
Flebotônicos (como diosmina/hesperidina) e anti-inflamatórios locais podem aliviar sintomas, mas não substituem compressão ou tratamento definitivo quando necessário.
Procedimentos e cirurgias
Quando há refluxo significativo ou sintomas persistentes, as opções minimamente invasivas são preferidas:
- Ablação endovenosa por radiofrequência ou laser (EVLA): “queima” a veia doente.
- Escleroterapia com espuma: indicado para veias pequenas/medianas.
- Flebectomias (retirada de veias superficiais) por microincisões.
- Cirurgia convencional em casos específicos ou quando as veias não são acessíveis por técnicas endovenosas.
Estudos e diretrizes (Society for Vascular Surgery / American Venous Forum) mostram que tratamentos endovenosos têm recuperação mais rápida e menor dor pós-procedimento que a cirurgia aberta. Fonte: J Vasc Surg (2011) guidelines — https://www.jvascsurg.org/article/S0741-5214(11)01102-7/fulltext
O que funciona de verdade e o que é mito?
- Mito: “Remédio resolve varizes sozinho.” — Remédios ajudam sintomas, mas não resolvem refluxo significativo.
- Verdade: Compressão e exercícios melhoram muito o quadro e evitam progressão.
- Mito: “Se não dói, está tudo bem.” — Mesmo sem dor, alterações de pele e inchaço merecem avaliação para evitar úlceras.
Prevenção: o que você pode começar a fazer hoje
- Mexa-se: 30 minutos de atividade física na maior parte dos dias.
- Use meias de compressão se ficar muito tempo em pé ou sentado.
- Mantenha o peso saudável.
- Evite roupas muito apertadas na cintura e coxa.
- Durante viagens longas: levante-se, caminhe e faça movimentos de pés e pernas.
Quando procurar um médico?
- Se há dor persistente, inchaço que não melhora ou feridas na perna.
- Se as varizes aumentaram rapidamente ou surgiram após trombose.
- Se o tratamento caseiro (compressão, dieta, exercícios) não alivia os sintomas em semanas.
Prognóstico — o que esperar
Com tratamento adequado, muitos pacientes experimentam redução significativa de sintomas e melhor qualidade de vida.
Sem cuidados, a IVC pode progredir para mudanças de pele e úlceras crônicas, que são difíceis de tratar e impactam muito a rotina.
Perguntas frequentes (FAQ rápido)
Insuficiência venosa crônica tem cura?
Depende do estágio. Em muitos casos a doença é controlada com medidas e procedimentos; “cura” completa pode não ser possível quando há dano venoso extenso, mas os sintomas podem ser muito amenizados.
As meias de compressão precisam ser usadas para sempre?
Nem sempre para sempre, mas costumam ser recomendadas a longo prazo para reduzir recidiva e controlar sintomas. O médico orienta tempo e grau de compressão.
Gravidez piora a insuficiência venosa?
Sim, a gravidez aumenta a probabilidade de varizes e sintomas. Muitas mulheres melhoram após o parto, mas algumas precisarão de tratamento posterior.
Procedimentos venosos são dolorosos e perigosos?
Os métodos atuais (ablação endovenosa, escleroterapia) são menos invasivos, com recuperação rápida e baixo risco quando feitos por equipes qualificadas. Complicações existem, por isso a avaliação individual é crucial.
Minha recomendação prática — o que fazer agora
- Se você tem sintomas: marque uma avaliação com angiologista, cirurgião vascular ou flebologista e peça um ecodoppler venoso.
- Comece já a elevar as pernas, caminhar e, se indicado, usar meias de compressão.
- Anote quando os sintomas pioram (hora do dia, atividades) — isso ajuda o médico a entender seu caso.
Conclusão
A insuficiência venosa crônica é comum, mas não é normal conviver com dor, inchaço ou feridas. Com diagnóstico correto e um plano que combine medidas de estilo de vida, compressão e, quando necessário, tratamentos intervencionistas, é possível recuperar qualidade de vida.
FAQ rápido: sintomas principais — dor, inchaço, varizes, alterações da pele; diagnóstico — exame clínico + ecodoppler; tratamentos — meias, mudanças de hábito, procedimentos endovenosos ou cirurgia.
E você, qual foi sua maior dificuldade com insuficiência venosa crônica? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Fontes e leitura adicional:
- Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) — https://www.sbacv.org.br
- NHS — Varicose veins and chronic venous insufficiency — https://www.nhs.uk/conditions/varicose-veins/
- Diretrizes da Society for Vascular Surgery / American Venous Forum — J Vasc Surg (2011) — https://www.jvascsurg.org/article/S0741-5214(11)01102-7/fulltext