Lembro-me claramente da vez em que acompanhei minha avó ao hospital — a preocupação no rosto dela, as respirações curtas, e o silêncio tenso da sala de emergência. Em poucas horas, os médicos explicaram que ela precisaria de uma angioplastia e colocação de stent. Vi de perto o alívio quando, dias depois, ela voltou a caminhar sem dor no peito. Na minha jornada como jornalista de saúde, essas experiências pessoais me ensinaram que, por trás de uma palavra técnica como “stent”, há pessoas com medo, dúvidas e decisões reais para tomar.
Neste artigo você vai aprender, de forma clara e prática: o que é um stent, como ele funciona, quando é indicado, os tipos existentes, como é o procedimento, riscos comuns e cuidados pós-colocação. Vou também responder às dúvidas mais frequentes para que você se sinta informado e confiante ao conversar com seu médico.
Conteúdo
O que é um stent?
Stent é um pequeno tubo em forma de malha que é inserido dentro de uma artéria para mantê-la aberta. Na prática clínica, o termo é mais usado para artérias coronárias (as artérias do coração), mas stents também são usados em outras partes do corpo (carótidas, artérias periféricas, vias biliares).
Como o stent funciona? (explicação simples)
Pense na artéria como um cano parcialmente entupido por gordura. O cardiologista usa um balão para abrir esse trecho (angioplastia) e, então, deixa o stent como uma “moldura” interna que impede a artéria de voltar a colapsar. Alguns stents liberam medicamentos localmente para reduzir o risco de nova obstrução.
Quando um stent é indicado?
Os principais cenários:
- Angina estável ou instável com obstrução significativa das coronárias.
- Infarto agudo do miocárdio (alguns tipos de infarto são tratados com angioplastia e stent de emergência).
- Doença arterial periférica ou estenose de outras artérias, dependendo do caso.
Nem toda obstrução precisa de stent; em alguns casos o tratamento clínico (medicação) ou cirurgia de ponte de safena (bypass) é mais indicado. A decisão depende do local da obstrução, sintomas e avaliação do risco-benefício.
Tipos de stent
- Bare-metal stent (BMS) — stent metálico simples. Hoje usado com menos frequência porque há maior risco de reestenose.
- Drug-eluting stent (DES) — stent farmacológico — libera um medicamento que reduz a formação de tecido que poderia obstruir novamente a artéria. É o tipo mais usado atualmente.
- Stent bioabsorvível — projetado para desaparecer com o tempo. Teve avanços, mas seu uso é mais restrito e ainda sujeito a avaliação caso a caso.
Como é o procedimento (o que esperar)
O procedimento é chamado de angioplastia coronária com implante de stent (PCI — percutaneous coronary intervention). Em linhas gerais:
- Geralmente feito sob sedação leve e anestesia local.
- Um cateter é inserido pela artéria da virilha ou do punho e guiado até o coração.
- Um balão abre a placa e o stent é posicionado e implantado.
- Tempo de procedimento: normalmente 30 minutos a algumas horas, dependendo da complexidade.
Após o procedimento, o paciente fica em observação por algumas horas a alguns dias, dependendo do quadro.
Medicações após o stent — por que são importantes
Depois de colocar um stent, o risco mais preocupante é a formação de coágulos sobre o stent (trombose). Para reduzir esse risco, é padrão usar terapia antiplaquetária dupla (DAPT): geralmente aspirina + um inibidor do P2Y12 (clopidogrel, ticagrelor ou prasugrel).
A duração da DAPT depende do tipo de stent, motivo da angioplastia e do risco de sangramento do paciente. Em geral, para muitos stents farmacológicos a DAPT é indicada por pelo menos 6-12 meses, mas cada caso é avaliado individualmente pelas diretrizes médicas.
Riscos e complicações
Como qualquer procedimento, a colocação de stent tem riscos:
- Trombose do stent (mais perigosa nos primeiros meses se a medicação não for seguida).
- Reestenose (a artéria voltar a estreitar) — reduzida com stents farmacológicos.
- Complicações no local da punção (hematoma), reação alérgica ao contraste, insuficiência renal em pacientes suscetíveis.
- Em casos raros: infarto, AVC ou necessidade de cirurgia de emergência.
Importante: seguir as orientações médicas reduz muito esses riscos.
Recuperação e vida após o stent
Recuperação costuma ser rápida. Muitas pessoas voltam às atividades leves em poucos dias, mas exercícios intensos e trabalho físico pesado podem ser suspensos por um período recomendado pelo cardiologista.
- Tomar as medicações conforme prescrição é essencial.
- Controlar fatores de risco: parar de fumar, controlar pressão arterial, colesterol e diabetes.
- Praticar atividade física regular e alimentação saudável.
Diferenças entre stent e cirurgia de bypass
Em resumo:
- Stent/angioplastia é menos invasivo, recuperação mais rápida, indicado para obstruções focalizadas.
- Bypass (cirurgia) é mais invasivo, indicado quando há múltiplas obstruções complexas ou diabetes com doença coronariana difusa.
A escolha é feita por equipe médica com base em exames de imagem e condição clínica do paciente.
Perguntas que você pode fazer ao seu médico
- Qual é o grau de obstrução e por que você recomenda stent agora?
- Qual tipo de stent será usado e por quê?
- Quanto tempo terei que tomar antiplaquetários?
- Quais sinais de alerta devo observar após o procedimento?
FAQ rápido
1. Colocar stent cura a doença cardíaca?
Não. O stent trata a obstrução local e alivia sintomas (como angina), mas não cura a aterosclerose. É necessário controle contínuo de fatores de risco.
2. Posso parar os medicamentos quando me sentir bem?
Não. Parar a medicação sem orientação aumenta o risco de trombose do stent, que pode causar infarto. Sempre converse com seu cardiologista antes de mudar qualquer remédio.
3. Quanto tempo dura um stent?
O stent em si fica permanentemente (exceto os bioabsorvíveis que se degradam). O objetivo é manter a artéria aberta a longo prazo, mas o sucesso depende do tratamento e controle dos fatores de risco.
4. Há alternativas ao stent?
Sim: tratamento clínico otimizado (medicamentos e mudanças no estilo de vida) e cirurgia de revascularização (bypass). A melhor opção depende do caso.
5. Quem não pode fazer angioplastia com stent?
Casos com anatomia coronária muito complexa, alergia grave ao contraste sem possibilidade de prevenção, ou condições clínicas que tornam o procedimento de alto risco podem contraindicar a angioplastia. Cada caso é avaliado individualmente.
Minha experiência prática e conselho
Ao acompanhar pacientes e familiares em hospitais por anos, aprendi que informação calma e objetiva faz muita diferença. Quando minha avó recebeu o stent, a clareza da equipe médica sobre o procedimento e os cuidados pós-operatórios deixou todos mais tranquilos. Meu conselho prático é: anote perguntas antes da consulta, pergunte sobre o tipo de stent e a duração da medicação, e peça para alguém de confiança ajudar no acompanhamento das receitas médicas nos primeiros meses.
Fontes confiáveis e leitura complementar
- Mayo Clinic — Stent (sobre o procedimento)
- American Heart Association — informações sobre angioplastia e cuidados
- NHS — Stents
- Sociedade Brasileira de Cardiologia — diretrizes e orientações
Conclusão
Stents salvaram e melhoraram a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Eles são uma ferramenta poderosa para tratar obstruções que põem em risco o coração, mas não substituem o controle dos fatores de risco. Informação, comunicação com o médico e adesão ao tratamento são as chaves para um bom resultado.
E você, qual foi sua maior dificuldade com stent? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo — sua história pode ajudar outra pessoa.
Referência externa utilizada: Mayo Clinic — https://www.mayoclinic.org/tests-procedures/stent-implantation/about/pac-20384607